Intercâmbio: do medo de ir aos prantos para voltar
Dezessete anos, algumas confusões internas e bastante medo. Essas poderiam ser características de qualquer adolescente em qualquer lugar do mundo, mas essa era eu quando fui ‘empurrada’ para dentro de um avião rumo ao Texas, EUA, para uma temporada de seis meses.
Empurrada? É, foi quase isso. Desde pequena sabia que o meu momento de fazer intercâmbio chegaria, afinal fui sendo ‘preparada’ para isso desde os doze anos, quando fui para o interior da Inglaterra ficar três semanas em um summer camp e um ano depois para a Califórnia também em um programa parecido. Férias dos sonhos, não? Definitivamente hoje seria meu primeiro pensamento mas acredite, na época não era nem de longe algo que eu escolheria fazer. Vinte e um longos dias sem a minha família, em um outro país, falando outra língua – não, obrigada!
Claro que voltei das duas viagens cheia de histórias para contar e com muitas saudades de todos os momentos e pessoas que conheci pelo caminho, mas nada suficiente para me fazer esperar ansiosamente pelo temido momento do intercâmbio. Apesar da certeza absoluta que seria uma das experiências mais incríveis e enriquecedoras da minha vida, o medo era quase sufocante.
Eis que o dia finalmente chegou em janeiro de 2011, depois de muitas tentativas de preparação interna e momentos de desespero – um pouquinho de drama envolvido, bem característico da idade, não é mesmo? Os primeiros dias foram difíceis, como já era de se esperar, e seis meses pareciam uma eternidade. Uma nova vida me esperava: família, casa, cidade, escola, amigos, hábitos. Nada que tivesse a mínima semelhança com qualquer coisa presente na minha antiga rotina, o que significava um exercício de adaptação hardcore.
Com o passar dos dias tudo foi se encaixando, o novo já não era mais tão assustador e eu já tinha até passado a gostar dessa nova realidade. Meses depois e a adaptação já era total a ponto de pensar em como seria difícil a despedida da minha vida de intercambista – das experiências, dos lugares e, principalmente, das pessoas.
Nesses seis meses aprendi muito mais do que inglês: fazer amizades novas, a sair da zona de conforto, a enxergar a mudança como algo positivo; conheci lugares incríveis, uma cultura completamente diferente e pessoas que fazem parte da minha vida até hoje. Sem dúvidas devo a maior parte de todas as boas lembranças do intercâmbio à minha família americana, que me acolheu e fez o possível para que eu me sentisse em casa desde o primeiro dia.
Criamos um laço tão forte, uma relação tão próxima e carinhosa que até hoje, mais de sete anos depois, não só mantemos contato como já nos encontramos quatro vezes, duas nos EUA e duas no Rio. A felicidade de recebê-los no meu país e poder retribuir pelo menos uma pequena parte da hospitalidade deles foi uma das melhores sensações. E até hoje toda vez que nos despedimos algumas lágrimas insistem em cair, mas nada que se compare aos prantos em junho de 2011 quando o programa acabou e chegou a hora de voltar para casa. Acabei chorando mais para voltar do que para ir... quem diria, não?
Afinal o intercâmbio é isso: aprendizado, amadurecimento, conhecimento, mudanças, novas pessoas... é impossível voltar para casa a mesma pessoa. Aliás, qual casa? Você volta deixando uma parte nesse lugar que te acolheu tão bem por meses e te fez sentir tão... em casa. A frase “home is not a place, is a feeling” não poderia ser mais verdadeira.
E a cereja do bolo: mal sabiam meus pais que aquela menina que não aguentava ficar muito tempo longe do ninho e não pensava jamais em morar fora do país iria se mudar anos depois para Londres, sem data de volta. Acabaram criando um monstrinho viajante – que sorte a minha!